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leitor ideal

leitor ideal

O meu pequeno-grande prazer diário prende-se com o desafio do 5º dia, o "objeto quotidiano" que descrevi aqui no dia 7 de Novembro de 2021. A saber, o objeto é a caneca em que bebo o meu café matinal, e o prazer é o respetivo conteúdo, o café, claro. Confesso: o café e aquilo que faço enquanto o bebo constituem o "prazer inenarrável" com que inicio os meus dias.

Desde que estou confinada em casa à espera da operação ao joelho, que nunca mais chega - disseram-me em Janeiro, mas ainda não recebi qualquer notícia -, comecei a acordar muito cedo. Aquilo que tenho para fazer à noite não tem interesse nenhum, rever sitcoms mais ou menos parvas e/ou assistir a notícias/entrevistas/ debates políticos geralmente deprimentes - mas entretanto descobri que tenho coisas muito interessantes para fazer logo depois de acordar, cedo, no dia seguinte.

Um mês antes de ser declarada a pandemia, ou seja, em Fevereiro de 2020, subscrevi o curso de meditação tibetana da Tergar Internacional, Joy of Living, e devo confessar que, até há relativamente pouco tempo - até ter começado a levantar-me mais cedo - não correu lá muito bem, porque eu não conseguia manter uma prática diária, por falta de disciplina. O curso tem três níveis e também só há pouco tempo passei para o segundo nível. Até então, andei a arrastar-me pelo primeiro nível, alternando períodos de prática com  períodos de "quero lá saber", qual tartaruga rebelde e preguiçosa.

O grande impulso para seguir em frente deu-se no fim do verão, quando comecei outro curso da Tergar, The Heart of Tantra, sobre budismo Vajrayana ou tântrico. Comecei com um retiro on-line em Setembro e desde então tem sido de vento em popa. Já fiz o curso introdutório, The Heart of Tantra: Essence e estou atualmente no primeiro módulo de The Heart of Tantra: Immersion.

Este progresso, como todos os avanços, não surgiu do nada. Deixei de ligar o despertador, mas acordo espontaneamente todos os dias entre as 5 e as 6 da manhã, às vezes mesmo pouco depois das 4.

Levanto-me, vou à casa de banho e vou aquecer o café. Depois, sento-me ao computador e começo o meu dia. Os meus primeiros golos de café sabem-me extraordinariamente bem, enquanto ouço a música inspiradora da Antena 2 e arrumo a minha "casa" mental: respondo a e-mails, faço as encomendas de coisas que preciso de comprar, trato dos assuntos de que é possível tratar a essa hora e escrevo. Quando estou despachada, desligo o rádio, acendo a vela e o incenso e começo as minhas aulas. Assisto aos vídeos, tiro apontamentos, imprimo os textos para ler  depois e faço as práticas de meditação guiada - tudo isto num estado de apreço e contentamento, a que acabo por chegar, nos poucos dias em que não começo por me sentir assim.

Assim, todos os dias me sinto uma "filha da madrugada", enquanto faço acompanhar as minhas jornadas solitárias e aventurosas de golos de prosaico e saboroso café - e é a antecipação do prazer que sinto nestas horas que me faz sair da cama todos os dias.