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leitor ideal

leitor ideal

A única diferença entre um buda e qualquer outra pessoa é que, ao contrário de todos os seres que sofrem no samsara, um buda reconhece a sua própria natureza verdadeira.

                                                                                  - Mingyur Rinpoche

Há equívocos que levam muito tempo a consertar, alguns quase uma vida inteira.

Desde que me conheço enquanto criatura pensante e (relativamente) consciente, sempre senti a necessidade de me transformar numa "pessoa melhor", procurando colmatar as deficiências de tudo o que sou - dos defeitos do corpo físico aos defeitos de caráter, dum temperamento irascível a uma força de vontade deficiente... a lista é cruel de tão exaustiva.

Só há pouco tempo a minha perspetiva começou a mudar. No verão do ano passado fiz um retiro on-line, "Pure Perception", e comecei a frequentar as aulas, também on-line, do curso "The  Heart of Tantra" que se lhe seguiu e que vai prolongar-se até ao fim do  verão deste ano.

O "caminho da fruição"

De acordo com os ensinamentos fundamentais do budismo tântrico, ou Vajrayana (Veículo Indestrutível), a nossa mente é fundamentalmente pura e o caminho da meditação é simplesmente o processo do reconhecimento das qualidades que já possuímos, como a consciência, amor, compaixão e sabedoria.

O caminho de Vajrayana, da "fruição", significa que não existe um objetivo que tenhamos de alcançar como resultado da prática, já que esse objetivo, ou seja, o estado desperto ou estado de buda já existe em nós. Já somos budas, mas não o reconhecemos - e no Vajrayana, a meditação não é mais do que o processo de reconhecer que somos budas e de  alimentar esse reconhecimento.

Tal não deixa de ser, contudo, um caminho árduo: é que só através da prática continuada de meditação e do estudo do dharma (os ensinamentos) pode esse reconhecimento ganhar raízes em nós e tornar-se real. Caso contrário, será apenas mais um investimento do ego, que nos fará cair num equívoco ainda mais denso e   indecifrável do que aquele meu equívoco inicial.

E o que é que tu ganhas com isso?, perguntarão vocês.

O resultado final e último será libertar-me do samsara e alcançar o nirvana, mas confesso que nem a mim isso diz muito - afinal, nunca estive no nirvana, portanto não sei como é, nem sei se é um estado assim tão desejável. Já a ideia de contribuir, com a minha meditação e as minhas acções,  para a libertação do sofrimento, meu de todos os seres,  me é bastante mais significativa e simpática.

Seja como for,  sei que, desde que comecei a minha prática, o sofrimento tem vindo a transformar-se em paz e reencontro, a cada dia, a possibilidade - e a realidade -  do bem-estar e da alegria. Que, na verdade, só podem ser encontrados no momento presente, já que a prática de meditação tem que ver com aprender a reconhecer a nossa bondade básica nesse mesmo momento e alimentar esse reconhecimento até que ele penetre no mais profundo do nosso ser.