O Caminhante Solitário
Na sua obra de 1998, O Caminhante Solitário (Ed. Teorema, 2009), W. G. Sebald (Wertach im Algau, Alemanha, 1944 - Dezembro de 2001), convida-nos a encetar com ele uma curiosa caminhada pela paisagem pré-alpina, região de onde são oriundos todos os artistas sobre quem escreveu, bem como ele próprio, e que visitou alguns anos antes da sua morte.
Dedica cada um dos seis capítulos do livro a cada um desses artistas, destacando-se de entre eles o artigo dedicado a Jean-Jacques Rousseau, Le Promeneur Solitaire, já que este é o mais conhecido desses artistas e, porventura, deu o mote para o título da obra com as suas Rêveries d'un Promeneur Solitaire (Devaneios do Caminhante Solitário).
Jean-Jacques Rousseau e o Iluminismo
Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra, Suíça, no dia 28 de Junho de 1712. Foi considerado um dos principais filósofos do Iluminismo e um precursor do Romantismo. Afirmando-se contra o absolutismo que dominava toda a Europa, o Iluminismo condenava as estruturas de privilégios absolutistas e colonialistas e defendia a reorganização da sociedade.
Este "caminhante solitário" influenciou fortemente dois pensadores norte-americanos do século XIX, também eles grandes caminhantes e autores de curiosas caminhadas.
Renascimento Americano: o Profeta e o Anarquista
Ralph Waldo Emerson nasceu em Boston, nos Estados Unidos, no dia 23 de Maio de 1803. Foi ensaísta, poeta e filósofo e o fundador do movimento denominado transcendentalismo.
Embora nascido há mais de 200 anos, tinha estranhas ideias acerca do mundo natural, expressas no seu segundo ensaio intitulado "Nature", que viria a influenciar pensadores como Thomas Carlyle e Friederich Nietzsche. Numa das suas profecias parece ter antecipado a teoria da evolução natural, tal como viria a ser desenvolvida por Charles Darwin em A Origem das Espécies, publicado em 1859.
Emerson também parece ter antecipado em 80 anos a descoberta de Erwin Schrodinger e Albert Einstein de que a matéria é feita de energia, intuindo que a aparente solidez da matéria é a ilusão que, mais tarde, os físicos viriam a demonstrar que é. E as suas inspirações proféticas ainda não totalmente cumpridas dão conta duma realidade física que pode ser pensada como uma projeção holográfica, intuindo, com uma antecedência de 150 anos, ideias ainda incipientes dos físicos teóricos dos nossos dias.
Pela sua biografia e pela sua obra, foi justamente considerado o pai do renascimento americano.
Henry David Thoreau nasceu em Concord, Massachusetts, Estados Unidos, no dia 12 de Julho de 1817. Foi discípulo e amigo de Ralph Waldo Emerson e fortemente influenciado pelas obras deste e de Jean-Jacques Rousseau. Por influência de Emerson, defendeu a tese de que só no contacto com a Natureza, longe das forças corruptas da civilização, o sonho de liberdade norte-americano podia ser realizado. Em 1854, escreveu o que viria a ser o clássico da literatura norte-americana, "Walden, ou a Vida nas Florestas", uma descrição da sua vida durante os dois anos que passou na solidão da pequena cabana que ele próprio construiu na margem do lago Walden, com o objetivo de se dedicar à contemplação da natureza e escrever as suas reflexões.
É também autor da obra "Desobediência Civil", uma espécie de manual do anarquismo pacífico, que influenciou Gandhi, Martin Luther King e Nelson Mandela.
Os banhos de floresta
Temporalmente mais próximo de nós, mas com origem no Japão profundo e milenar, o shinrin yoku, ou "banhos de floresta", é uma prática implementada nos anos 80 do século XX para combater os altos níveis de stress que se têm registado naquele país e que têm contribuído para um elevado número de karoshi, morte provocada por excesso de trabalho.
Os banhos de floresta são uma terapia cujos benefícios fisio-psicológicos estão estudados cientificamente. Contribuem para a redução do stress, diminuição do ritmo cardíaco e da tensão arterial, reforço do sistema imunitário, preservação dos níveis de energia e melhoria da concentração, do relaxamento e do sono.
Há 150 anos, já Henry David Thoreau, no seu texto "Andar a Pé", fazia a apologia, pré-romântica e poética, das caminhadas a pé,
Desejo dizer uma palavra em nome da natureza, em nome da liberdade absoluta, em nome da amplidão, que contrastam com a liberdade e a cultura das cidades - no sentido de considerar o homem como um habitante da natureza, ou parte e parcela dela, e não como um elemento da sociedade. Desejo fazer uma exposição vasta e, se puder, a farei enfática (...)
e depois de páginas de belas reflexões e descrições, terminava:
Assim, vagamos para a Terra Santa, até que um dia o sol brilhe com mais intensidade do que jamais brilhou, brilhe talvez em nossos espíritos, e corações e ilumine inteiramente as nossas vidas com uma forte luz de alerta, tão quente, serena e dourada como numa colina, no Outono.