Dia 16 - Um desafio empolgante
Em Fevereiro de 2020, parecia eu que estava a adivinhar a chegada do covid em Março, iniciei o Joy of Living, um curso on-line, da Tergar Internacional, comunidade de meditação liderada pelo monge nepalês Yongey Mingyur Rinpoche, que se dedica ao estudo e difusão do budismo tibetano. O objetivo deste curso é, acima de tudo, ensinar a meditação tibetana. No mês seguinte foi declarada a pandemia e o Joy of Living, nas pessoas do Mingyur Rinpoche e dos instrutores da Tergar, foi o meu companheiro fiel nos tempos de confinamento e de angústia. E continua a ser, agora que a pandemia "amansou", mas sem que as circunstâncias tenham mudado na minha vida pessoal: incapaz de andar por causa duma grave artrose no joelho direito, estou confinada em casa, à espera da operação, e a perder peso até lá.
O meu adorado curso Joy of Living é um desafio, sim, à minha disciplina e força de vontade, mas não é um desafio sobremaneira empolgante: é acolhedor e confortável, como uma casa limpa, arrumada e que nos dá momentos de paz e felicidade. Como um lar aonde sabe bem voltar.
O empolgante coração do Tantra
Um desafio verdadeiramente empolgante surgiu-me muito depois e muito recentemente, em Setembro deste ano, quando teve início o curso, também da Tergar e também on-line, The Heart of Tantra: Essence. Esta abordagem, que vai ter a duração de cerca de um ano, cobre os ensinamentos e a prática do terceiro yana ou "veículo" do budismo tibetano, o Vajrayana, a escola segundo a qual já temos em nós, neste preciso momento, as qualidades inerentes à nossa natureza básica: a natureza de Buda. Apenas temos de a reconhecer.
E esse é o grande desafio ao super-neurótico exemplar de mente ocidental que eu sou: reconhecer que já tenho tudo, que não preciso de melhorar nada, que a pureza da realidade depende da pureza da percepção que tenho dela (só que não, não tenciono embarcar em esfusiantes aventuras sexuais, como o senso comum, quase sempre errado, acredita ser apanágio do Tantra, já que no Tantra budista, pelo menos - no hindu não sei -, a sexualidade é apenas uma das muitíssimas áreas da vida comum a que podemos aplicar a consciência e o reconhecimento da nossa perfeita natureza básica).
É de facto uma grande aventura, porque à medida que o curso for progredindo e que for progredindo a minha prática, não faço ideia do que vai aparecer e do que vou descobrir.
Só tenho a confiança de que será bom, como tem sido toda a minha experiência com o Mingyur Rinpoche, a Tergar e a meditação tibetana, ao longo desta itinerância pelo meu confinamento forçado.